31/10/07

CORRENTES

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Afinal, voltei antes de Novembro. Pouco. Muito pouco tempo antes. Porque além de precisar muito de descansar, preciso muito de dizer como é bom quando um elo se une a outro, e a mais outro, e outro ainda, e mais outro... até formar uma corrente fortíssima.
Sabemos ao que as correntes fortes são capazes de resistir. Não é preciso dizer.

Fotografia - Corrente. Moínhos de Montedor. TINTA AZUL. Agosto de 2007.

27/10/07

EMIR KUSTURICA E GRIGORY SOKOLOV

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Porque vou fazer uma breve pausa no blog, deixo-vos duas sugestões, bastante distintas entre si, gostando eu, muitíssimo, de ambas.

1. Não esquecer de comprar bilhetes para o concerto de Emir Kusturica e da sua No Smoking Orchestra, no Coliseu do Porto a 25 de Janeiro, no de Lisboa a 26. Na impossibilidade, há sempre, entre outros, este excitante CD, live is a miracle, gravado ao vivo em Buenos Aires.

2. A música de Bach, Beethoven, Chopin e Brahms, interpretada pelo exímio pianista russo Grigory Sokolov. Um excelente pianista, que já pude ver/ouvir/apreciar ao vivo, duas vezes. Um privilégio. É genial. [ver post de 15.04.07].


Até Novembro.

ROCHAS

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Rochas que deixam adivinhar losangos que o tempo, ainda, não teve tempo de esculpir.
Rochas plantadas em areia clara.
Rochas que parecem velhas com xailes pela cabeça, a caminho duma missa de sétimo dia.Rochas que lembram camelos a descansar depois duma longa caminhada no deserto.
A dureza e resistência das rochas, face à erosão contínua.
A leveza e suavidade duma pequeníssima pena branca, de gaivota, que flutua numa minúscula laguna de água salgada, entre a luz e a sombra.
A força e a fragilidade.
A luz e a sombra.
A beleza da coexistência.


Fotografias. TINTA AZUL. 2007.

26/10/07

LIBERA ME

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Libera me

Livrai-me, Senhor,
De tudo o que for
Vazio de amor.

Que nunca me espere
Quem bem me não quer
(Homem ou mulher).

Livrai-me também
De quem me detém
E graça não tem,

E mais de quem não
Possui nem um grão
De imaginação.


Carlos Queirós [1907-1949]
[o que apresentou a Pessoa de Ofélia a Fernando.... facto que deu origem a muitas cartas de amor]

Autofotografia: metade do corpo com alma inteira, [se é que corpo e alma se podem dissociar, acho que não] em Lisboa, na Avª 24 de Julho, em Junho de 2007. Depois de uma reuniao de trabalho, caminhei a pé desde a Avª até à Estação de Santa Apolónia. Como me soube bem essa tarde de brisa morna em Junho, com o Tejo a acompanhar-me, quase sempre, à minha direita.

PS. Como dizia o amigo Justiniano, só vou a Lisboa no Verão e início do Outono, ou seja, entre 24 de Julho e 5 de Outubro.

DESCANSO IMAGINÁRIO

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Cheguei a casa exausta. Já passava bastante das oito da noite. Disseram-me que estava pálida. Sentia-me, de facto, pálida. Tive um dia cheio de problemas para resolver, com dezenas de coisas diferentes para fazer. Precisava de jantar bem. Jantei. bebi um bom vinho. Eu gosto de um bom vinho. Recompus-me. Mas não vou ter fim-de-semana descansado.
Que saudades dos fins-de-semana em Montedor. Há três semanas que não vou lá. Este, que começa hoje, também não posso ir. Mas tenho fotografias do meu mar dos meus montes das minhas rochas, para me descansar, enquanto não posso lá ir. Ou pelo menos, convenço-me que me descansa.

Fotografias: De baixo para cima: 1. mar agitado entre as rochas; 2. Godos gigantes;3. Monte, mar e céu; 4; Anoitecer em cinza prateado. TINTA AZUL. Montedor. Agosto 2007.

CIVILIZAÇÃO E CULTURA por ALMADA NEGREIROS

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"Uma mesa cheia de feijões.
O gesto de os juntar num montão unico. E o gesto de os separar, um por um, do dito montão.
O primeiro gesto é bem mais simples e pede menos tempo que o segundo.Se em vez da mesa fosse um território, em logar de feijões estariam pessoas. Juntar todas as pessoas num montão único é trabalho menos complicado do que o de personalisar cada uma delas.
O primeiro gesto, o de reunir, aúnar, tornar úno, todas as pessoas de um mesmo território, é o processo de CIVILISAÇÃO.
O segundo gesto, o de personalisar cada ser que pertence a uma civilisação é o processo da CULTURA.
É mais difícil a passagem de civilisação para cultura do que a formação da civilisação.
A civilisação é um fenómeno colectivo.
A cultura é um fenómeno individual.
Não há cultura sem civilisação, nem civilisação que perdure sem cultura.
[Aqui há uma ilustração, que não tive tempo de "copiar" cujo desenho representa uma balança perfeitamente equilibrada com a civilisação num dos pratos e a cultura no outro].

FIM

Justaposição disto mesmo a Portugal: uma civilisação sem cultura.As excepções, inclusivé as geniaes, não fazem senão confirma-lo. "
Copiado de Sudoeste, Cadernos de Almada Negreiros, 1935.
[Que muito gentilmente me foi oferecido pelo meu amigo Zé Carlos, após um longo tempo de empréstimo, porque ele percebeu que eu me tinha afeiçoado a este ponto cardeal].
Texto já publicado aqui em 11.08.2006.

Em vez de feijões, podemos fazer o exercício com botões. Ver um a um, com as suas características singulares, ou seja, cada um é uma nova totalidade que não se opõe à totalidade existente, mas que não vive sem ela. (...)

Não é bom pensar com os botões?
Podem usar estes e os do post anterior, que são mais, que nem eu nem eles se importam. Muito pelo contrário. :)

25/10/07

DIAS PESADOS QUE SE TORNAM LEVES

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Depois de mais um dia complicado, cheio de trabalho, muito mesmo, sinto-me leve. Como se seres alados velassem por mim e me elevassem do chão. Serão anjos da guarda?
Pensando com os meus botões, cheguei à conclusão de que os seres que hoje ajudaram a que o meu dia pesado, se tornasse mais leve, são pessoas. Sim, pessoas. Pessoas com asas dentro de si. Aladas. Sim.
Pessoas tão diferentes entre si como os meus botões. De várias cores, tamanhos e feitios, mais e menos brilhantes.
Pessoas que, pelo que me disseram, ajudaram a fazer, sugeriram, incentivaram. Pelo modo como me sorriram, como me falaram.
Pessoas que, hoje, me fizeram tão bem. Poderia nomeá-las uma a uma, mas não é preciso. Acho que cada uma o sabe, porque gosto de retribuir.
Bem hajam.

Descritivo: os meus botões antigos [postos no scanner], cujos irmãos, primos e aparentados me serviram em tempos, para fazer alfinetes de lapela. Agora, estes que restaram, servem-me para pensar.

24/10/07

PASSO E AMO E ARDO

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Passo e amo e ardo.
Água? Brisa? Luz?
Não sei. E tenho pressa:
levo comigo uma criança
que nunca viu o mar.

Eugénio de Andrade

Fotografia - mar da costa minhota, com aplicação de filtro. TINTA AZUL. 2007

DISTORÇÕES. LÚCIDAS?

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Afinal não foi eólica a energia que hoje me fez mover. Foi mais uma espécie de energia telúrica. Cheguei ao fim do dia cansada, muito cansada, mas ainda sinto energia a sair de dentro de mim. Continuei, sim, continuei, agora que já posso descansar sentada no sofá, a forjar, fundir, moldar, torcer, alterar resistências a vários materiais de construção, ferro, aço, vidro, alumínio, betão... ,só que a partir de fotografias do meu album digital.
A que mais prazer me deu foi, sem dúvida, fundir [en]traves metálicas com céu e nuvens, tanto na fotografia como no meu dia de hoje.
Preciso destas distorções para manter a lucidez.

Fotografias com aplicaçõ de filtros. De cima para baixo: 1.Estação de Metro, Parque Maia; 2. Edifício na Avª Santos Leite, Maia, o qual eu própria baptizei de Mondrian; 3. Edifício do IADE, Lisboa; 4.Hotel na Avª da Boavista, Porto. TINTA AZUL.2007

23/10/07

ALFACE E BERINGELA

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As cores de fundo das minhas preocupações. Alface e beringela. Os legumes cujas cores me preenchem os dias e até as noites. Daqui a menos de uma semana terão que estar prontos a servir, nem que seja preciso uma estufa para maturação rápida. Nem que no fim, eu e os outros caiamos de maduros, não da estufa, mas da estafa! Se tudo correr bem...até me deixo cair de propósito...de satisfação! Oxalá!
Até lá work work work! Eólica? Sim. Energia, limpa, é preciso!

Descritivo: cortes e recortes com aplicação de filtros variados, a partir de um cartaz da Conferência Nacional da Educação Artística, da autoria de Isabel Espinheira.

CORVUS OLISIPONENSIS

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Em noite de insónia, duma fotografia tirada ao lado da Estação de Santa Apolónia, em Junho passado, acho que me saíu uma espécie de corvo.
Será o Corvus Olisiponensis? S.Vicente o saberá. Ou não. Eu não sei. Já devia estar a dormir.
It's a (in) Sony!

Imagem - Fotografia com aplicação de filtro. TINTA AZUl. 2007

22/10/07

AS PALAVRAS

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As palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio De Andrade
[1923-2005]


Porque há palavras que nos beijam como se fossem bocas [Alexandre O'Neill] e há palavras que nos batem como se fossem chicotes.
Porque hoje muitas palavras me beijaram e outras me bateram.
Porque as que beijaram vão ficar na memória e as que bateram vão desfazer-se em letras soltas, mal eu acabe de escrever esta postagem.
As Palavras de Eugénio de Andrade dizem tanto. Por isso as reponho aqui.



Fotografia - parte de uma tela, com palavras escritas a lápis preto de maquilhagem e pinceladas dispersas a tinta de óleo, envolta em película aderente, TINTA AZUL, 2005.

BURACOS NEGROS X PONTOS LUMINOSOS


Apesar do meu dia de hoje ter tido inúmeros buracos negros, não me posso queixar. Teve, também, pontos luminosos e brilhantes. E...no fim das contas, estes prevalecem sobre aqueles. Os primeiros, acabam por ser efémeros, os segundos é que contam porque resistem, sobreelevando-se como se fossem inselbergues, à planura da corrosão dos dias que têm buracos negros.

21/10/07

LHASA DE SELA

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Há muito tempo que não ouço nenhum destes CD da Lhasa de Sela. La Lhorona, de 1998, foi uma enorme surpresa para mim. Ouvi-o vezes sem conta, até saber quase de cor todas as letras das canções. Ofereci-o a várias pessoas, como costumo fazer quando gosto muito de alguma coisa.


La Lhorona é a personagem principal de uma lenda mexicana muito conhecida naquele país, sobre a qual se pode saber mais aqui.
Living Road, de 1993, que tem a ver com a vida itinerante da cantora, não me surpreendeu do mesmo modo. Apesar de também gostar , talvez tenha criado demasiada expectativa depois de La Lhorona. Hoje, a música de fundo duma reportagem que passou num dos telejornais, foi precisamente "De cara a la pared", por isso me lembrei de lembrar aqui estes dois CD.
Para quem quiser saber as letras basta clicar aqui.

CC CIDADE DO PORTO

















Restaurante self-service no Centro Comercial Cidade do Porto. Visto do último andar parece um restaurante de bonecas, numa cidade de brincar.
Lembrei-me desta fotografia, que já tem alguns meses, porque me esqueci de ir a este Centro Comercial buscar uma coisa que lá comprei há já uns dias. É porque não me faz muita falta...

Fotografia - TINTA AZUL. 2007

20/10/07

DOIS LABIRINTOS

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Mais dois rabiscos.
Folhas de um caderno de argolas de papel grosso.
A tinta, soprada através de uma palha.
Quando tinha fôlego para isso...

Imagens - Digitalização de desenhos. TINTA AZUL.

DUAS ÁRVORES











































Hoje deu-me para revisitar uma pasta grande de desenhos e pinturas que existe cá em casa. Nunca soube desenhar, nem pintar. Mas sempre gostei de o fazer.
Gosto dos materiais, do papel, das telas, dos óleos, acrílicos, pastel...
Agora que perdi o pudor, pois não tenho pretensão alguma, a não ser o prazer que me dá, neste caso, que me deu, fazer estes borrões.
Têm muitos anos, mais de 15. Talvez por isso tenha olhado para eles de uma forma diferente, porque hoje, sendo a mesma, estou diferente. Olhei-os com serenidade. Por isso os ponho aqui nesta minha espécie de agenda do quotidiano, onde registo o que em cada dia me lembro, faço, vejo...enfim...pequenos detalhes, alguns momentos da vida de cada um dos dias.
Duas árvores rabiscadas com lápis pastel.

Imagens - Desenhos digitalizados. Tinta Azul.

APROXIMA DE TI ESSE CÁLICE ...

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Cálice. TINTA AZUL. 2007

19/10/07

19 DE OUTUBRO (2)

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Porque sei que iria rir com esta brincadeira que fiz duma fotografia dos galos de Barcelos que me ofereceu já lá vão muitos anos.
Aqui ficam eles, todos torcidos, como se estivessem a fazer surf.
Imagino que quem nos visse rir juntas pensasse: tão tola é a nora como a sogra.
Como gosto de poder dizer isto!

Imagem - Fotogafia com aplicação de filtro. TINTA AZUL. 19.10.07

19 DE OUTUBRO

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Fazia hoje 76 anos, se estivesse fisicamente presente entre nós.
Faz, porque está presente no lugar onde ficam os que amamos. No coração, na alma, seja onde for, dentro de nós.
Tenho para lhe oferecer as flores do jardim que me deixou e o cuidado com que cuido delas.
Tenho para dizer, as saudades que sinto, a falta que nos faz.


Fotografias - TINTA AZUL. 2007

AS GALINHAS DOS OVOS COLORIDOS

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Toda a gente conhece a história da galinha dos ovos de ouro. A ganância acabou com a galinha. Acabou com os ovos. Acabou com o ouro.
Esta é uma galinha prateada, parente de muitas outras, que põe ovos coloridos e tem uma crista tão colorida quanto os ovos que põe. Também, aqui, nesta história, a ganância pode querer acabar com estes brilhos e estas cores. Mas, inclino-me mais para a possibilidade dos vários matizes do cinzento, associados a outros tantos matizes da inveja serem o maior perigo para estas galinhas. Galinhas que por serem tão alegres irritam galinhas e galos que não gostam das cores do riso e da alegria. Estas galinhas dos ovos coloridos também têm os seus dias maus,...mas... aprenderam a gostar das cores e das suas infindáveis tonalidades e a querer pintar com elas as suas vidas e a dos outros. Têm, a seu favor, os coelhos da Páscoa que não prescindem da companhia dos ovos coloridos.

Para a Maria que faz hoje 10 anos.

Imagem -Desenho sobre fotografia digital. TINTA AZUL.

18/10/07

BOA NOITE

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Entre o Farol e o mar.
Glórias da manhã.

Boa noite.

Fotografia:TINTA AZUL. Montedor, manhã de Agosto de 2007

HERA MESMO

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Era e não era, para voltar a ser e a não ser outra vez. Basta um h para ser definitivamente.
Esta, que tem h, vive e cresce enroscada num tronco de pinheiro que a deixa trepar. Como se ela fosse da sua própria seiva.

Fotografia: TINTA AZUL Montedor, fins de Agosto de 2007.

17/10/07

LÍQUENES

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Hoje ao fim da manhã fui apanhada por uma daquelas dores de cabeça que vem acompanhada de enjoo e de uma enorme má disposição geral.
Não pude fazer o que o corpo tanto me pedia: vir para casa, deitar-me, ficar em silêncio, sem que ninguém me incomodasse. Tinha tantas coisas para fazer e não as podia adiar. Cheguei a casa já passava das 19.30, tomei um analgésico. Jantei. Senti-me melhor. Depois, sentei-me aqui, à frente do pc, para ver os emails. Apeteceu-me ver imagens que me arejassem, como se isso me ajudasse a ficar melhor. Lembrei-me, então, destes líquenes que captei numa rocha, que muito bem conheço, porque se eleva no monte, ao lado do caminho que me leva ao encontro do mar.
Os líquenes, nascem da combinação de uma alga com um fungo, ou seja, de uma relação simbiótica que nada tem a ver com dor de cabeça+enjoo=total má disposição. Podem ajudar na avaliação qualidade do ar. Dito de um modo ligeiro, em princípio onde há muitos líquenes não há poluição.
Descansei-me, assim, um pouco a olhar para esta rocha que, aqui, esconde o mar que tão bem conheço. Agora, embora ainda seja cedo, vou deitar-me. Levo a cabeça menos poluída e mais azul. Se, como diz o Zef, tudo que é azul é limpo, como o céu, pode ser que me ajude a dormir melhor.
Amanhã é dia de levantar às 5 e tal da manhã e não é para ir ver os líquenes à beira mar...

Fotografia - Tinta Azul. Montedor, 2007

16/10/07

MEMÓRIA DE ADRIANO

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Memória de Adriano


Nas tuas mãos tomaste uma guitarra
copo de vinho de alegria sã
sangria do suor e de cigarra
que à noite canta a festa da manhã.

Foste sempre o cantor que não se agarra
o que à terra chamou amante e irmã
mas também português que investe e marra
voz de alaúde e rosto de maçã.

O teu coração de ouro veio do Douro
num barco de vindimas de cantigas
tão generosas como a liberdade.

Resta de ti a ilha dum tesouro
a jóia com as pedras mais antigas
não é saudade, não! É amizade.

José Carlos Ary dos Santos

Porque hoje faz 25 anos que Adriano morreu.

Para saber mais sobre Adriano Correia de Oliveira clicar aqui e aqui. Fotografia daqui.

DE CÁ PRA LÁ DE LÁ PRA CÁ

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Pra lá e pra cá. Dia sim dia não.Quase. Paisagens à velocidade do Alfa-Pendular. Sabidas de cor. Quase.
Passa-se pelo sono, passa-se pelos papéis. Enjoa-se. Quase. Fecham-se os olhos e pensa-se no que é agradável, com intervalos de sobressalto, porque falta fazer tanta coisa!
A seguir a estes dias de tanto cansaço, outros dias virão.
Quem corre por gosto, cansa-se, mas não se importa. Digo eu. Costumo correr por gosto e não me importo de me cansar, mas estou a ficar cansada de correr. Quase.

Fotografia - Vista do Alfa-Pendular em andamento, claro!Lisboa-Porto. TINTA AZUL. Outubro 2007.

15/10/07

NA MEMÓRIA

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Há semanas.
Que não piso este chão cheio de folhas secas.
Que não passo por este tojo envolto numa seda fina e translúcida.
Que não olho o mar através destes pinheiros, enquanto caminho.
Que não me sento, para descansar, nas rochas à beira destas ondas vigorosas.
Que não vejo as gaivotas a voar neste céu tão azul.

Há semanas.
Que o tempo não me dá tempo.

Há semanas.
Que não piso, não passo, não olho, não me sento, não vejo.

E, no entanto, piso, passo, olho, sento-me e vejo.


Fotografias - TINTA AZUL, Montedor, Setembro 2007

OLHOS DE COMBOIO

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Olhou-me nos olhos e pareceu dizer: entra, que eu levo-te para casa.
Nunca um comboio me tinha olhado assim de frente. Gostei!

Fotografia - TINTA AZUL. 2007

14/10/07

FA[c]TOS

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Passei pelo alinhamento das notícias dum telejornal.
Só fixei os cabides. A maior parte dos fa[c]tos era irrelevante.

Fotografia - cabides de madeira, antigos, com inversão das cores.TINTA AZUL,2007.

TAXISTAS ESPECIAIS

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Na última ida a Lisboa, apanhei dois interessantes taxistas. O da manhã, começou por dizer-me que pela cor e corrente do Tejo devia estar a chover muito em Espanha, contando-me depois como conhecia bem este rio. Atravessou-o a nado 7 vezes, contudo, conhece quem já o atravessou 9 vezes e diz não saber se, ainda, será capaz de igualar esse recorde. Não me pareceu muito preocupado com isso, tem noção do perigo de tal aventura, pois a idade não perdoa. Tentei consolá-lo dizendo que atravessar o Tejo, com aquela largura imensa, uma única vez que fosse, era já uma enorme façanha, quanto mais 5 vezes!

O taxista da tarde, foi mais invulgar na conversa. Começou por me dizer que no dia em que um cliente entrar no seu táxi, e lhe diga que não tem pressa, lhe diga para ir com calma, esse cliente não pagará a corrida, portanto, eu que fixasse o número do carro.
Depois, como nunca ninguém fez [que eu não conhecesse], contou-me o seu dia tim tim por tim, com todos os detalhes. Começou por dizer que só acabava o trabalho às 5 da manhã e então contou-me todo o seu dia a partir dessa hora. Que chegou a casa, comeu uma esparguetada que lhe soube muito bem, se deitou, mas pouco depois se levantou e foi com o filho comprar uns ténis ao Carrefour, porque lho tinha prometido. Que almoçou às tantas horas e o quê. Que, depois, meteu roupa na máquina e o quê. Que pôs amaciador. Que fez zapping. Que adormeceu um pouco no sofá. Que fez outra máquina de roupa, desta vez branca. Que pôs a roupa a secar, embora tivesse secador de roupa. Que tinha tomado um banho, vestido roupa lavada e ali estava a começar mais um dia de trabalho. Acabado o relato do dia, falou-me da gente da noite. Que gostava. Que havia gente boa. Que havia episódios engraçados. Ambos comentámos que, esses episódios, só os conhece quem os vê, pois o que nos dizem da noite, é que é perigosa, só é notícia aquilo que corre mal. Mas isso, já todos nós sabemos. Concordámos. Foi-me contando mais. Fui-o escutanto, porque quem assim fala é porque precisa e a mim nada me custava ouvir e às vezes até gosto. Para terminar e porque estavámos quase a chegar ao destino, contou-me o que, eventualmente, considerava mais importante. Que tinha sido seleccionado entre 30 colegas para fazer o anúncio do Actimel. E lá me repetiu o argumento do anúncio, embora eu o soubesse, porque faz parte de uma série de anúncios em que é escolhido um profissional de determinada ramo, considerado de desgaste e lá lá lá, o Actimel reforça as defesas e ajuda a cumprir muito melhor a missão profissional de cada um com tanto casei imunitas. Disse-lhe que eu não seria capaz de fazer um anúncio duma coisa que não gostasse, mas que de Actimel gostava muito e que ía estar com atenção para não perder o anúncio, e que ía dizer a toda a gente que o conheço!
E pronto, acabou a viagem. Boa sorte com o trabalho de noite. Boa sorte com o anúncio. Boa viagem menina [como gosto quando, ainda, me tratam por menina].
Portanto, já sabem, o próximo anúncio desta marca, que seja protagonizado por um taxista, é este meu taxista, a quem não perguntei o nome, mas cuja cara me lembro perfeitamente.Talvez o volte a encontrar nas ruas de Lisboa, para lhe dizer que estava muito bem na televisão, e que não tenho presssa nenhuma, que vá devagar e que me pode contar o seu dia...

Fotografias - Praça de táxis frente à Estação de Santa Apolónia. TINTA AZUL, 2007.